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Recomendações para se adequar à nova ABNT NBR 5419/2015

Por Normando V.B. Alves*

Recentemente a nova norma ABNT NBR 5419:2015 completa um ano de vida. Gostaria de comemorar essa data com notícias boas, como: “Todos os profissionais já conhecem a norma e a aplicam”, ou “Todos os projetos já estão saindo dentro da nova norma”, ou ainda “Todas as instalações estão seguras”, etc.

Fato é que a realidade é que essas mudanças levam tempo para acontecer, seja porque muitos projetistas ainda não conhecem a norma nova, seja porque estão acostumados com a norma antiga e não conseguem cortar o cordão umbilical, ou ainda por pressão do mercado que os “obriga” a trabalhar na norma anterior.

Bom, uma coisa é fato e contra fatos não existem argumentos. O fato é que a norma mudou. Agora cabe aos profissionais da área correrem atrás da informação e se capacitarem para atender a essas novas exigências da norma.

Começaremos pelas novas siglas da nova norma:

PDA – Proteção de Descargas Atmosféricas: divide-se em SPDA e MPS;

SPDA – Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas: dividida em externa e interna está compreendida em subsistemas de captação, descida, aterramento e conexões para evitar centelhamentos perigosos, respectivamente.

MPS – Medidas de Proteção contra Surtos: é a proteção das instalações elétricas de energia e de sinal, equipamentos e pessoas, constituída por Dispositivos de Proteção contra Surtos (DPS), equipotencialização, roteamento de cabos, minimização dos laços (loops), blindagens espaciais, malhas de referência, etc. Essas medidas podem ser adotadas separadamente ou em conjunto, conforme gerenciamento de risco da parte 2 da norma.

Veja na Figura 1, a seguir, o caminho para projetar uma proteção:

Caminho para projetar uma protecao

Figura 1 – Esquema de proteção.

O primeiro passo consiste em usar a parte 2 da norma ABNT NBR 5419:2015 desenvolvendo o gerenciamento de risco. Após análise, deve-se verificar se o valor do risco calculado está dentro do risco tolerável pela norma ou não.

Se o risco tolerado pela norma for atingido, a solução sugerida deverá ser implantada, porém, se esta não for atendida, então devemos retornar ao gerenciamento de risco e analisar o que poderá ser melhorado para que o mesmo fique dentro dos limites tolerados. Isso pode ser feito, por exemplo, com a indicação de um nível de proteção mais rigoroso, dividindo a edificação em zonas, refinando a proteção interna com DPS coordenados, ou blindagens espaciais, etc.

Depois de algumas tentativas iremos achar um conjunto de medidas técnicas que deverão ser aplicadas em cada projeto, de acordo com a analise de cada caso.

As soluções técnicas podem ser:

  • Necessidade de SPDA (externo e interno) e MPS;

  • Necessidade de apenas SPDA (externo e interno) e indicação da classe de proteção;

  • Necessidade apenas de MPS e quais tipos de medidas;

  • Não necessita de SPDA nem de MPS, bastante raro de ser encontrada.

Uma situação incomum, mas que eventualmente pode acontecer, seria colocar o SPDA com o nível de proteção mais rigoroso (classe I), DPSs coordenados, sistema de combate a incêndio automático, e outras medidas complementares de proteção e, mesmo com todas essas proteções, o risco ainda pode continuar acima do tolerável. Nestes casos específicos, deverá ser justificado tecnicamente através do gerenciamento de risco todas as medidas a serem aplicadas e, mesmo com todas as medidas mais rigorosas, infelizmente, o risco ainda ficou acima dos parâmetros da norma, apesar de todas as medidas preventivas tomadas.

Algumas pessoas acham que a proteção contra surtos apareceu nesta nova versão da norma, o que não é verdade. A norma anterior já mencionava a proteção, pelo menos, dos quadros de entrada de energia e de sinal. A nova norma atualizou e aprimorou esses conceitos e outros novos e estabeleceu os parâmetros e critérios mais detalhados de como fazer essa proteção, criando o conceito de zonas.

É uma boa pratica, que, inclusive, consta da ABNT NBR 5410:2004, colocar DPS pelo menos na entrada de energia e sinal se o prédio tem SPDA, ou seja se tem risco de ser atingido por uma descarga direta, mas será a parte 2 da norma – Gerenciamento de risco, que irá determinar essa real necessidade ou não, pois existem diversos fatores envolvidos e é a combinação destes fatores que irá encaminhar a solução técnica do projeto.

Recentemente, participei de um projeto na região do recôncavo baiano com índice baixíssimo de densidade de descargas atmosféricas (Ng) e, de acordo com o gerenciamento de risco não era necessária a instalação de SPDA e nem de MPS.

O prédio tem cinco andares, porém, está rodeado de prédios muito mais altos, em torno de 20 pavimentos. Lançando mão da esfera rolante e fazendo algumas tentativas, deu para perceber porque não precisava de proteção contra raios diretos, pois este se encontrava dentro da zona 0B, dos prédios vizinhos e a probabilidade de um raio direto seria baixíssima. Mesmo não necessitando de SPDA e MPS, e levando em consideração um histórico recente de um raio que caiu em um dos prédios vizinhos – o que ocasionou um choque (tensão de toque) em um funcionário, pois estava encostado numa porta metálica (sem maiores consequências) e também o sistema de CFTV foi queimado –, achei prudente sugerir algumas MPSs. A instalação de DPS para a proteção dos equipamentos e o aterramento das massas metálicas poderiam garantir mais segurança.

Dessa maneira, apesar de a norma não exigir nada, achamos prudente sugerir a instalação de DPS como prevenção, pois o custo é muito baixo para este caso especificamente.

A norma deixa claro que caso você decida instalar um SPDA, mesmo não sendo necessário, este terá que atender, pelo menos, ao menor nível de proteção (Classe lV). O fato de não precisar do SPDA não dá o direito de o projetista dimensionar algo que esteja abaixo do mínimo que a norma exige.

Uma coisa muito importante na nova norma é que há essa ferramenta para ajudar a escolher as melhores soluções técnicas com o menor custo possível, mas, independentemente disso, é a decisão do projetista que vai determinar o que poderá ser feito, além do que o gerenciamento de risco apontar.

Outro dado interessante é que, como são muitas variáveis possíveis de serem combinadas, podemos ter diversas soluções para uma edificação que sejam compatíveis tecnicamente.

O mais importante do gerenciamento de risco é que ele permite a combinação de diversas variáveis, dando mais liberdade para o projetista determinar em quais das variáveis, em cada caso, é interessante direcionar o investimento. Ao mesmo tempo também está delegando mais responsabilidade para o projetista tomar essa decisão, que inclusive pode ser tomada em comum acordo com o cliente, se for o caso.

Tem muita gente procurando na nova norma a tal tabela que estabelecia os níveis de proteção e que na nova norma sai a partir do Gerenciamento do risco (parte 2).

Em resumo, o modo como se inicia um projeto mudou muito, o que está deixando alguns projetistas com os cabelos em pé, mas com as novas ferramentas que estão sendo disponibilizadas no mercado, esse problema está sendo minimizado. Destaco o aplicativo TUPAN, desenvolvido pela USP, como uma dessas ferramentas.


*Normando V.B. Alves é engenheiro eletricista, diretor de engenharia da Termotécnica Para-raios e membro da comissão da ABNT que revisou a norma ABNT NBR 5419 | [email protected]

34 comentários em “Recomendações para se adequar à nova ABNT NBR 5419/2015

  1. Boa tarde!
    Sei que a norma é de 2015, porém não encontrei onde menciona sobre o prazo que as edificações teriam para se adequarem a ela, alguém poderia me dizer se foi dado um prazo para adequações e instalação de SPDA?

    1. Não existe um prazo oficial para a adequação dos projetos já executados e finalizados. Apenas os novos projetos que devem ser adequados antes de sua execução.

      Os projetos já executados, durante as inspeções rotineiras que serão feitas a luz da nova norma, podem ser reprovados por alguns itens não estarem em acordo com a mesma.

      Nossa recomendação é que todos os projetos, sejam os já executados, os que estão em execução e os que ainda estão no planejamento, estejam em acordo com a versão mais atual da NBR 5149.

      1. Bom dia gostaria de saber se posso utilizar o sistema de spda para aterramento de maquinas elétricas de uma indústria
        Ou devo fazer um aterramento separado

        1. Carlos,

          A recomendação da NBR 5419-3:2015 é de que todos os aterramentos sejam interligados. Essa ação visa reduzir a diferença de potenciais na ocorrência de uma descarga atmosférica, evitando centelhamentos perigosos.

          Apenas o aterramento ou a ligação equipotencial dessas máquinas não é o suficiente para sua proteção completa. O ideal é um estudo completo das MPS (medidas de proteção contra surtos). Equipamentos eletrônicos devem ser protegidos via DPS (Dispositivos de proteção contra surtos) nas entradas de energia e sinal.

  2. Boa tarde,
    Em relação a areas abertas ( exemplo um campo de futebol) como posso dimensionar um SPDA sendo que na norma não aponta um procedimento para proteção de areas abertas ? e mesmo que eu queira projetar um SPDA para um campo de futebol, existe alguma recomendação normativa de não utilizar ( parar o jogo ) em caso de uma chuva ?

    1. Não é possível realizar a proteção de grandes áreas abertas. Para esses locais é recomendado a instalação de detectores de tempestade conforme norma NBR 16785. No caso de uma possível tempestade com risco de descargas elétricas, o detector irá emitir um alerta para que as pessoas sejam removidas para um local seguro.

  3. Boa tarde,

    Uma dúvida que está em aberto para mim seria em relação a uma Avaliação de Risco na qual exista a necessidade de um SPDA NP IV, eu posso especificar os DPS coordenados para NP maiores que IV (I ou II ou II no caso) ou o NP do DPS coordenado deve ser sempre igual ao NP do SPDA. Isto não está claro na NBR 5419-2 e há algumas discussões em relação a isso. Inclusive o software que eu uso quando se atrela um NP para o SPDA os DPS coordenados obrigatoriamente têem o mesmo NP do SPDA, o SPDA é NP IV, os DPS coordenados são obrigatoriamente NP IV, que influenciam diretamente nas variáveis Pspd e Peb.

    Qual o posicionamento da Termotécnica em relação a este assunto?

    Agradeço a atenção.

    1. Thiago,
      A eficiencia do PDA está atrelada ao nivel de proteção do SPDA e ás MPS (neste caso especificamente aos DPS). Quando no Gerenciamento de Risco indica um nivel de proteção por ex: IV, para que erve essa informação ? Para determinar a capacidade de drenagem dos DPS, pois 50% da corrente do nivel 4 vai para o solo e os outros 50% vão para os serviços que entram na edificação. A partir do nivel de proteção fica fácil determinar a corrente da descarga que vai entrar na edificação e assim especificar o DPS com a corrente adequada. Com relação ao tipo do DPS (10/350 ou 8/20) depende do local da instalação onde o DPS será instalado. Se os DPS forem instalados na fronteira entre a zona 0 e a zona 1 , devem ser do tipo 1 (rampa 10/350) se forem localizados entre a zona 1 e a zona 2 deverão ser do tipo 2 e por aí a fora. Isso sem falar na corrente de Impulso, tensão de suportabilidade etc. Lembro que a instalação de DPS não é obrigatória por isso temos a parte 4 da norma NBR5419 onde elenca diversas medidas de proteção contra surtos que elenca ações como roteamento de cabos, evitar a formação de laços, DPS, cabos blindados, infra estrutura de blindagem, malhas de referencia, blindagens espaciais, etc. O DPS é uma das soluções e tudo depende da qualidade da instalação existente. ABRAÇOS.

  4. Professor Normando fui numa palestra recentemente sobre Spda
    E o palestrante disse que quando não for possível fazer a malha de aterramento circurdando a edificação até atingir os 80% enterrados
    Podemos fazer uma malha complementar em outra direção interligada a esta malha circundante
    Isto está na norma
    Não encontrei

    1. Denilson, isso não está na norma e é temeroso fazer isso pois a malha deve estar onde ela é necessária que é exatamente no encontro das descidas com o solo. Além de tentar fazer a malha por fora da edificação, caso não seja possivel então poderá tentar fazer por dentro e em ultimo caso fazer testes de continuidade para analisar se as fundações poderão ser usadas como eletrodo natural de aterramento. Essa solução não tem respaldo normativo. Eu não faria essa solução.

  5. Estou com dúvvida quando a edificação não possui área externa para execução do anel. Posso executar esse anel no interior da edificação, mantendo as medidas de proteção quanto à alvenaria de 1,0 m.

    1. O item 5.4.3 da NBR 5419:2015-3, diz que em caso de impossibilidade técnica o anel de aterramento pode ser instalado internamente, o mais rente possível às paredes internas, desde que sejam tomada as devidas precauções com as tensões de toque e passo, conforme Seção 8. Recomendamos justificar em relatório tal solução, que só deve ser empregada em último caso, para evitar que em futuras inspeções seja apontado como erro de projeto/instalação.

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