O que pode acontecer quando um carro é atingido por um raio?

Como sempre ouvimos falar, carros metálicos, máquinas agrícolas metálicas e aviões metálicos são locais seguros para estar em dias de tempestade. Sim, isso é verdade e continua sendo, porque estas estruturas se comportam como uma Gaiola de Faraday e a tendência é que a corrente da descarga atmosférica percorra um caminho pela superfície externa da estrutura até se dissipar no solo.

Vale lembrar, que estar nestes locais durante uma tempestade é mais seguro do que em áreas abertas. No entanto, tal como em edificações com sistema de Para-raios (SPDA), a proteção não é 100% garantida. Em eventos da natureza, com comportamento aleatório e alta severidade, não existe nada que seja 100% seguro. Nestas condições, somos capazes de prevenir e reduzir riscos, mas não eliminá-los totalmente.

A engenharia aeronáutica é a mais evoluída quando falamos em proteção contra raios e EMC (Compatibilidade Eletromagnética), por isso é muito raro um avião ser atingido e ter que aterrissar por causa de um raio. O mais comum de ocorrer são pequenas perfurações na fuselagem externa do avião, que passa por inspeção visual e reposição de placas metálicas, caso necessário, após pousar em seu destino.

Ainda assim, alguns pontos são considerados vulneráveis em um avião. O bico (onde fica o radar), as turbinas (impacto direto) e eventuais sensores externos que levem sinal para dentro do avião. Nos carros, também existem pontos vulneráveis, como por exemplo: as janelas, o vidro para brisa e o vidro traseiro. De modo geral, os aviões possuem uma blindagem melhor contra interferências eletromagnéticas, por possuírem janelas muito menores, em comparação aos carros.

O vídeo que está circulando nas redes sociais de uma caminhonete Ford Ranger que chegou a pegar fogo, surpreende pela magnitude dos estragos, mas não chega a assustar quem é da área de descargas atmosféricas, uma vez que existem diversos relatos de acidentes parecidos, em menores proporções.

A ausência de estruturas mais altas e favoráveis ao recebimento da descarga no entorno da região, colaborou para que o carro se tornasse um ponto de impacto preferencial. Tudo indica que o raio atingiu a antena ou a lataria superior e uma pequena parte da corrente do raio desceu pelos cabos de sinal, chegando até a multimídia e a central de distribuição dos circuitos do carro.

Os efeitos térmicos desta corrente, percorrendo o caminho descrito, causaram incêndio no conjunto eletrônico e em todo material de plástico e espuma que compõem o painel do lado do motorista. O calor emanado neste processo, pode causar uma série de danos, incluindo a quebra dos vidros do veículo. Por sorte, não houve vítimas e o estrago só não foi maior devido à frieza do motorista que manteve o carro fechado, impedindo a propagação do fogo por falta de oxigênio.

As conclusões acima, foram feitas sem ter acesso a outros detalhes técnicos, como por exemplo: o ponto exato do impacto e vestígios de centelhamentos entre os pneus e o solo; além de relatos do motorista ou mais evidências que possam levar a novas conclusões. Apesar do ocorrido o carro continua sendo considerado um local seguro para estar, em relação às áreas abertas durante tempestades. Entretanto, sem dúvidas, o melhor é se abrigar dentro de uma edificação que possua proteção contra descargas atmosféricas projetada de acordo com as normas mais atuais.

*Eng. Normando V. B. Alves
Diretor de Engenharia e P&D na Termotécnica Para-raios

*Eng. Gabriel Almeida
Analista de P&D na Termotécnica Para-raios